Kaspar, o robô para ajudar crianças autistas

Usar um robô para ensinar humanos a comunicar pode parecer estranho, mas especialistas da Universidade de Hertfordshire estão convencidos de que é uma mais-valia para a aprendizagem das crianças autistas. A possibilidade de simular a expressão de emoções básicas, de forma repetida e previsível, pode fornecer boas oportunidades de aprendizagem.

Investigadores britânicos estão a desenvolver um robô para ajudar as crianças autistas a comunicar. Uma primeira versão do Kaspar - assim se chama este boneco humanóide - já está a ser usada em algumas escolas inglesas mas o novo modelo vai ganhar pele e sensores - uma inovação que o ajudará a interagir com os mais pequenos, garantem os responsáveis pelo projecto.
Kaspar é um robô com o tamanho e o aspecto de uma criança, desenvolvido por um grupo de especialistas em robótica da Universidade de Hertfordshire, com financiamento da União Europeia. A razão da sua existência é as crianças autistas: foi criado para encorajar o desenvolvimento de competências sociais e de comunicação em autistas, já que estas são as principais dificuldades das pessoas afectadas por esta perturbação do comportamento.
Agora, a equipa britânica vai cobrir o boneco com pele artificial e desenvolver tecnologia que permita ao robô interpretar e responder a estímulos tácteis. O objectivo é fazer com que ele consiga responder às crianças de forma a encorajar comportamentos "socialmente apropriados" e desencorajar os outros. Ou seja, o novo Kaspar vai ser capaz de perceber se a criança está a ser muito agressiva e reagir de forma adequada.
Para o psicólogo Edgar Pereira, o recurso a sistemas altamente informatizados que tentam aproximar-se ao comportamento humano mas que são mais previsíveis e mais exactos pode ser importante e positivo no trabalho com crianças autistas. Isto porque permitem simular aspectos específicos, como a expressão de emoções básicas, sempre que se pretenda, permitindo multiplicar as oportunidades de aprendizagem.
"É um facilitador, mas o objectivo final é que depois as crianças sejam capazes de transpor esse conhecimento para a interacção com pessoas, que são sempre mais complexas", explica o director pedagógico da secção de Lisboa da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo.
No entanto, o psicólogo alerta que nunca se pode pensar em substituir a aprendizagem com pessoa reais porque "nenhum robô consegue simular a qualidade da interacção humana". Além disso, Edgar Pereira salienta que estas experiências têm de analisadas "com controlos metodológicos muito apertados" para que se possa perceber a sua utilidade.
Para o neuropediatra Nuno Lobo Antunes, um projecto deste tipo só tem interesse se a criança conseguir transpor o que aprende com as máquinas para a sua interacção com pessoas, o que pode ser difícil dada a as subtilezas das emoções humanas. Além disso, o especialista considera que há muitas técnicas para treinar competências sociais, a maior parte muito mais barata.

http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/ acedido em 11 de Maio de 2009

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